Quem lê e escreve fanfictions?
Depois de saber o que é fanfic, é curioso saber quem as lê e escreve. Em um mundo globalizado, cheio de acesso a informações, mensagens instantâneas e mil possibilidades de ser visto, é fácil presumir que os mais jovens se saiam melhor nestes mundo louco. No mundo das fanfictions não é diferente, o mundo das fanfictions é dinâmico, interativo, tem uma linguagem própria e se subdivide em vários grupos de fãs.
Para entender melhor, quem lê e escreve fanfics, é necessário traçar um perfil superficial sobre seus escritores e leitores e depois se aprofundar em tópicos específicos desse mundo.
O “fanfiqueiro” são em sua maioria, adolescentes e jovens entre 13 e 31 anos de classe média, que têm acesso constante a internet e, que geralmente são estudantes do ensino médio ou superior. Porém, os fanfiqueiros não se resumem a isso, há escritores e leitores com menos de 13 anos e com mais de 31 anos, pessoas que ainda estão no ensino fundamental, ou que já terminaram os estudos, sendo uma estimativa menos expressiva.
Entende-se que o perfil superficial dos fanfiqueiros pode gerar dúvidas do estilo "Globo Repórter": Como se comunicam? Como se reproduzem? Onde eles vivem? Eles são nerds sem vida social? Vou tentar responder as duas últimas perguntas com uma palavra: Fandom.
Fandom, como foi explicado muito rapidamente no primeiro texto da coluna, é um conjunto de fãs e tudo que é relacionado a eles, mas, essa resposta é muito vaga, então vamos nos aprofundar: Fandom é uma palavra de origem inglesa, junção das palavras Fan e Kingdom, esse termo sempre foi muito recorrente no universo fanfiction, e hoje, ganha outros nichos como na música intitulando atualmente o que anteriormente era conhecido como fã clube.
O fandom é de certa forma um fã clube, ou até mesmo torcida organizada, essas três classificações tem características muito similares, pois as três têm um objeto de admiração e apresso, seja um cantor, um time de futebol ou uma saga literária. Os três criam comunidades virtuais como fanpages, perfis e grupos para dividir informações sobre seu objeto de admiração. O que vai diferenciar esses três grupos são os seus objetos de admiração e suas relações de consumo com eles.
Os participantes de um fandom são aqueles que frequentemente escrevem fanfics, criam fanarts (desenhos, pinturas e esculturas com os mesmo fins das fanfics), fanfilmes e outras produções feitas por fãs, são eles que vão compartilhar essas produções entre si, consumi-las, discuti-las e apreciá-las. Dentro dessa relação os indivíduos acabam socializando e criando laços de amizade e outros tipos de relacionamentos afetivos baseados nas coisas que eles têm em comum, muitos casais já se formaram por causa do fandom e das fanfics e isso responde a pergunta “Eles são nerds sem vida social?” Eles nem sempre são nerds, isso vai depender dos seus objetos de admiração e sim eles têm uma vida social, porque dentro ou fora do fandom eles acabam criando amizades e afetos.
É válido ressaltar que as fanfics não são apenas consumidas por participantes de fandoms, por vez o acesso constante a sites de fanfics leva as pessoas a buscarem outras fanfics que não fazem partem do seu fandom, ou apenas se interessam pelas fanfics no geral e não se integram a fandom algum, porém, acabam fazendo parte do universo fanfiction e socializando com os integrantes desse universo.
Agora falando sobre onde encontrar os “fanfiqueiros”, como já foi tratado anteriormente, as comunidades virtuais são locais certos para encontrar os fandoms e logo os escritores e leitores de fanfictions, que também criam grupos virtuais ligados a prática de ler e escrever fanfictions independente dos originais usados, um exemplo é o grupo no Facebook do Nyah Fanfiction que tem mais de 20.000 membros que interagem continuamente. “Mas esses encontros são só no mundo virtual?” Não.
É inegável que os fanfiqueiros se concentram massivamente na rede e os encontros específicos para reunião de consumidores de fanfics em geral, no mundo material é praticamente inexistente, salvo encontro entre pequenos grupos de amigos que se conheceram através das fanfics, porém os encontros físicos de fandoms são muitos, desde encontros simples, como marcar um dia para fazer um pique nique na Quinta da Boa Vista. até eventos pagos em casas de festas e centros de convenções, isso tanto para fandoms isolados como para um conjunto deles, um dos maiores exemplos de encontros de fãs é a Comic Con.
Voltando mais especificamente para as fanfics que é o que nos interessa aqui, os encontros físicos entre os fanfiqueiros são nulos, mas o grupo é grande e como todo grande conjunto de pessoas que dividem o mesmo espaço, no caso as comunidades virtuais, desenvolvem seu próprio modo de se comunicar, o que responde outra pergunta “ Como se comunicam?” A resposta é simples, o “idioma fanfiction”.
O “idioma fanfiction” é um conjunto de palavras e termos próprios e ou muito utilizados nesse mundo, são em sua maioria de origem inglesa ou oriental e muitas palavras que conhecemos em nosso idioma ganham outro nome e termos mais extensos, ou mesmo, práticas que requerem uma maior explicação ganham nomes que os definem simplesmente, como por exemplo o escritor de fanfics ganha o nome de ficwriter, a estória escrita em um único capítulo se chama one shot e a que tiver exatas 100 palavras se chama drabble e ainda há aquela que se tiver letra de música misturada a história ganha o nome de songfic, entre muitas outras.
Essa nova “língua” criada pelas fanfics não é algo abraçado por todos do mundo fanfic, o criador do Nyah Fanfiction, Michael Frank em um encontro de fanfic promovido pela Flupp (A Festa Literária da Periferias) se posicionou contra essa forma de comunicação, pois acredita que ela afasta e inibe novos interessados pelo mundo fanfiction, porém, eu tenho uma opinião contraria a dele. Como já foi apontado antes, o universo fanfiction interage diretamente com outras comunidades como os fandoms que geralmente compartilham dessa linguagem e essa similaridade “linguística” acaba se tornando um atrativo e não uma forma de exclusão. Fandoms, comunidades Kpops e outros são os responsáveis por alimentar esse “idioma fanfiction”, pois são eles que também produzem e consomem fanfics.
O perfil do fanfiqueiro ou pelo menos o da maioria deles está intimamente ligado aos fandoms e sua forma de comunicação, sua cultura no geral. Mas, se você não faz parte de um Fandom e ainda não se tornou um fanfiqueiro, porém, se encantou com o mundo da fanfictions e quer navegar nas ondas desse mar, não se acanhe, o “fanfiquês” não é algo alienígena e as estórias em si são escritas em idiomas convencionais como português, inglês e espanhol. Então, o novato não precisa ser alfabetizado nessa língua esquisita do mundo das fanfics para começar a consumí-las, só é preciso ser alfabetizado em um idioma convencional e ter curiosidade.
OBS: Se você se interessou pelo “idioma fanfiction” e quer entender mais, acesse o Dicionário de termos das fanfictions desenvolvido pela Liga dos Betas: