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O Homem da Lanterna de Abóbora


Hoje seria mais um dia de Halloween normal, crianças fantasiadas de monstros, batendo nas portas falando “doces ou travessuras!”, mas é incrível o que uma catástrofe natural é capaz de fazer.


Há dois dias, o ciclone Sandy, como ele é agora chamado, deixou a minha Nova York em estado de caos. Não temos luz, alguns dos meus vizinhos estão com problema no abastecimento de água, os telefones: com sinais escassos. Os bombeiros passaram várias vezes pelas ruas em busca de feridos ou possíveis mortos. Mais uma vez, o meu Halloween estava estragado.


Estou aqui isolado no quarto da pensão com o meu radinho de pilha, acompanhando a transmissão de uma rádio caseira, que me informa os últimos acontecimentos pela cidade. A dona da pensão pretende realizar uma pequena festa à noite, apesar dos acontecimentos recentes. Segundo ela, vai servir para aliviar a tensão.


A dona Bessie está desde o começo da manhã preparando a comida que será servida, estava sozinha em seus planejamentos. Quando me aproximei da cozinha para pegar algo para comer, ela veio com as mãos sujas falar comigo e deu-me uma “missão”, nas palavras dela:


- Kimball, preciso que vá numa missão para mim. O senhor Joseph tem algumas abóboras que ele comprou antes desse caos começar, conversei com ele ontem e ele disse que me cederia. Vai lá e pegue-as para mim. E não se esqueça de falar com os vizinhos para dar um pulinho aqui hoje à noite.


E lá fui eu à casa do senhor Joseph, um homem muito amigável. Não precisei nem bater a porta. Ele estava lá a consertando. Fiz um aceno tímido para ele e falei que a dona Bessie instruiu-me a pegar as aboboras. Ele entrou em sua casa, algum tempo depois, voltou com uma sacola. Estava um pouco pesada, ele mesmo disse que tinha cerca de dez. Agradeci, e tomei o rumo de volta à pensão.


Em meio ao caminho de voltam, encontrei alguns vizinhos e fiz o que a dona Bessie havia me pedido, falei sobre a festa de Halloween da pensão. Muitos me olharam com cara feia, mas depois se alegravam.


O restante do trecho foi solitário: algumas árvores caídas e poças de água. Faziam-me voltar a minha infância. Numa época cujas preocupações não faziam parte da minha rotina. Mas, teve um dia de minha infância, que o meu mundo se calou. Era uma noite de Halloween, minha mãe, apesar de sua doença, me levou para a rua para que eu pedisse doces, meu pai estava trabalhando no hospital.


Naquela noite, vi uma imagem que nunca mais esqueci. Um homem magro, com vestes surradas, segurando uma lanterna em forma de abóbora. Ele se aproximou da minha mãe e encostou a mão em seu ombro. Ela desmaiou para nunca mais acordar. O homem desapareceu nunca mais o vi.


A ambulância chegou vinte minutos depois. Um moço, que estava perto, chamara-a. Na ambulância, estava meu pai para atendê-la. Foi um choque para ele, vê-la, ali sem cor e eu chorando sobre o seu corpo. O médico desceu logo em seguida para analisá-la: não havia batimentos e sem respiração. Tentaram reanimá-la, mas já era tarde.


Desde aquele dia, passei a não gostar da noite de todos os santos, também chamada de Halloween. E nesse dia, após a catástrofe do ciclone, a dona Bessie pedia minha ajuda com os preparativos, após ter chegado com uma abóbora.


A noite havia caído e alguns vizinhos começaram a chegar. Apesar de tudo, o clima estava agradável, muitos trouxeram pratos que prepararam em casa, outros animavam a festa com suas histórias de terror para os outros.


Apesar do clima agradável, não me senti bem em meio àquela festa. Abóboras com as velas dentro, não me traziam boas recordações. Fui à rua, me afastei algumas dezenas de metros talvez, sentando na calçada. Um homem sentou ao meu lado. Estranhei, não tinha visto ninguém na rua.


Ele me ofereceu uma cerveja. Aceitei de bom grado e comecei a beber. Virei para olhar o rosto do homem: era ele. O homem da lanterna de abóbora. Fiquei paralisado de medo, ele encostou sua mão no meu ombro sem dizer uma palavra. Fiquei paralisado de medo. A sua voz macabra soou.


“Há muito tempo, um homem enganou o Diabo, para viver mais um ano e depois o enganou para viver para sempre. Essa é minha punição, não posso ir ao paraíso ou a inferno, apenas mostrar o caminho para aqueles que estão perto da morte.”


...


Kimball havia se entregado as bebidas desde sua adolescência, estava em tratamento. Ele fora encontrado morto na manhã seguinte, em frente ao bar que sempre bebia.




Fernando Souza

Estudante universitário de Licenciatura em Física pelo IFRJ de Nilópolis, RPGista, gosta de escrever e jogar em seu tempo livre.


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