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Amor e mar - One-shot Campeã do 1º Fanfictions Awards


ONESHOT CATEGORIA : Bandas & Músicos {EXO, f(x)} PERSONAGENS : Kai (Kim Jongin), Sehun (Oh Sehun), Krystal (Jung Soojung) GÊNERO : drama (tragédia), romance e novela, universo alternativo. CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA : +12 AVISOS : heterossexualidade, álcool.

Amor e mar

Essa coisa de cair de cabeça no que chama-se de amor já me fez algum sentido, embora com o tempo, tenha aprendido a não ser uma pessoa imprudente ao ponto de tomar riscos sem saber as consequências. Não lanço-me, não jogo-me, não mergulho; geralmente contento-me em arriscar ao colocar a ponta dos dedos do pé na água, mas só para testar sua temperatura.

De vez em quando, quando a tentação de entrar na piscina de sentimentos dentro de mim é grande, permito-me apenas sentar na borda e agitar as pernas, para ver as ondulações que meus movimentos causam na superfície. E então, nunca avanço desse ponto. Sendo assim, dou-me por satisfeita e continuo ali, tentando acreditar que aquele simples contato com a água já me bastou e foi o suficiente para me refrescar. Antes de conhecê-lo, pensava que, se amasse algum dia, seria prudente ao fazê-lo. Achava que seria saudável para mim e para o meu coração, embora não tivesse achado ninguém interessante a esse ponto. Todavia, Sehun chegou em minha vida como um furacão: jogou toda a minha sanidade pelos ares e fervilhou meu interior com a energia de uma paixão avassaladora e perigosa enquanto estava ao meu lado. Quando foi embora, deixou meus sentimentos quebrados e revirados dentro de mim. Eu sempre soube que o fim não seria bom. Mesmo assim, me fiz sua cúmplice e deixei-o me destruir com sua paixão.


- Você é linda – ele sussurrou em meu ouvido, como se as palavras fossem proibidas de serem ditas em voz alta. – Acho que nunca cansaria de te olhar. Estreitei os olhos e virei em sua direção para encará-lo nos olhos. Seu cabelo preto estava um pouco maior do que o costume, causando pequenas ondulações conforme o vento batia forte contra seu rosto. - Você não deveria dizer isso para mim, Sehun – afirmei, desviando o olhar ao sentir minhas bochechas corarem involuntariamente. Oh Sehun me distraía com uma facilidade incrível, e a culpa dentro de mim se alastrava toda vez que meu olhar vacilava e observava com detalhes o contorno de seu rosto fino e de sua boca carnuda. Tentei disfarçar segurando com força a grade à minha frente, olhando os carros passarem embaixo de nós em uma velocidade incrível. - E por que não posso, se é verdade? – ele quis saber, pressionando-me ainda mais. A varanda de meu apartamento já estava pequena demais para nós dois. – Você realmente é linda, então não vejo problema nenhum em dizer. No fundo, Sehun sabia o motivo pelo o qual eu sempre havia evitado conversas até tarde da noite, negava abraços muito demorados e até mesmo tinha evitado estar sozinha no mesmo ambiente que ele. Mas parecia que ela não existia para ele quando estávamos sós. Respirei fundo, e disse o motivo torcendo para que minha voz não falhasse. - Você tem namorada. O silêncio que pensei que existiria depois de citá-la foi substituído por uma gargalhada. Analisei sua risada por um segundo. Leve e cantada, soava firme sem nenhum tom de arrependimento pelo o que fazia. - Ela não precisa saber que te disse isso. Mordi a boca ao sentir um misto de alegria e remorso em meu âmago ao ouvir suas palavras. Não demorou muito para que me rendesse aos seus toques. Naquele dia, o vento urrava, a culpa consumia-me, e nós nos beijávamos.


Eu não queria me apaixonar do jeito que aconteceu. Não queria ser descuidada ao mergulhar em alguém de cabeça. Não queria que fosse de meu feitio fazer algo do tipo... Mas a verdade era que o instinto de mergulhar sempre esteve em mim, e só foi preciso um pequeno impulso para trazê-lo à tona. Assim como o sangue estava em minhas veias, da mesma forma que ele foi feito para circular por todo o meu corpo fui feita para me molhar por inteira e saltar na água, fazendo-a respingar ao meu redor. Feita para mergulhar - assim como outrora costumava fazer. Aqueles tempos eram outros, onde eu era alguém totalmente diferente do que sou hoje. Alguém que não havia passado por nada desesperador e não tinha medo de nadar em quaisquer que fossem as águas. Apesar disso, não banhava-me em nenhuma piscina por não gostar das mesmas. Elas eram entediantes demais para mim, e eu me recusava a desfrutar das minhas horas e da minha energia em águas que eram calmas, vigiadas, tratadas. Por essas e outras, eu me lançava ao mar. E somente a ele. Ah, o mar! Eu amava nadar, e consequentemente, nadar ali era o que mais gostava de fazer. A questão toda é que amava aquele , especificamente. O mar da praia privada, que ninguém se permitia entrar, quiçá visitar. Naquela praia, eu fazia questão de invadir e usufruir de um território que não me pertencia, e que além de tudo, não era saudável pra mim. Não era seguro. Não me importava com o perigo extra que ele me proporcionava em suas águas turbulentas, e nem me importava com o mal que me fazia. Amava nadar ali mesmo que a correnteza me puxasse, as conchas ferissem meus pés e a água fosse salgada demais em meus lábios. Oh Sehun era meu mar preferido e único.

- Eu a amo, Soojung –murmurou, quase inaudível. Estávamos ambos em uma festa. Minhas células pareciam ferver; porém, não saberia dizer se era efeito do álcool ou das palavras de Sehun para mim, que consegui decifrar por leitura labial. - Eu também te amo – confessei, sentindo a empolgação crescer dentro do meu peito. – Eu te amei desde a primeira conversa, e te amarei para sempre. Você sabe disso! Não tinha como não saber depois de tudo o que houve entre nós... O vi encarar-me com uma expressão perplexa no rosto, e perguntei-me como ele poderia estar surpreso pelos meus sentimentos se toda a minha existência parecia girar ao seu redor. Tentei me aproximar, e vi Sehun se afastar de mim, caminhando para trás. Eu não compreendia sua linguagem corporal. - Você, não – ele explicou, e senti um tom amargo em sua voz. - Ela . Minha namorada. Não era como se eu não soubesse que Sehun pensava daquela forma, ou que acabasse dizendo algo parecido em algum momento. Eu sabia que poderia vir a acontecer, e deveria estar preparada para isso. Entretanto, no momento em que as palavras saíram de sua boca, encontrei-me sem chão. - Ah... Ela . – Foi o que consegui balbuciar. Por um instante, senti-me tola pelo meu batom vermelho e vestido justo, que colocara apenas para impressioná-lo. Olhar em sua direção doía, então abaixei a cabeça e foquei em meus pés, calçados em saltos altos onde eu mal conseguia me equilibrar direito sobre eles. - Você não vai conseguir nada de mim. Minhas mãos tremiam, e eu não sabia como fazê-las parar de tremer assim como são conseguia fazê-lo parar de me machucar. - Você disse que não se separaria de mim nunca – rebati, lembrando de suas palavras antes de isso tudo começar. - Eu acho que não vou conseguir cumprir minha promessa, Soojung! – ele se exaltou, aumentando o tom de voz. - O que fazíamos era uma brincadeira. Pelo amor, você não entende isso? E, não. Eu não entendia como ele podia dizer que a amava se era a mim que recorria quando lhe era oportuno. Quando minha ficha caiu, já era tarde demais. Depois de meses remoendo nossa situação, foi que compreendi que eu, Jung Soojung, não seria nada além de seu fantoche pessoal. Sehun me conquistaria e usaria, para depois enjoar de minha presença. Em seguida, descartar-me-ia sem nem pensar duas vezes, quando já tivesse perdido o interesse. Toda a adrenalina do proibido e do que era novo já havia se dissipado. Sehun já havia concluído seus testes comigo, e ele tinha cansado porque não queria mais jogar nossa brincadeira. Eu estava sendo dispensada por ele quando era eu que deveria ter dito “não” primeiro, o que deixava-me ainda mais patética. Eu não era o suficiente para ser amada por Sehun. E nunca seria.

Contra a minha vontade, em algum dia a maré subiu mais do que o de costume. A noite chegara, e com ela, a lua cheia. Teimosa, continuei dentro d’água, pensando que uma hora tudo voltaria ao normal e eu conseguiria sair dali ilesa, sem resistência por parte do mar. Como resposta, obtive ondas que passaram a se quebrar em cima de mim, no topo de minha cabeça. A queda d’água eram meus sentimentos. Eles me puxavam para baixo, fazendo-me bater contra rochas e debater meu corpo completamente submerso avidamente em busca de um oxigênio que não estava ao meu alcance. Eu gritava, perdendo o pouco ar que me restava, e ninguém era capaz de me ouvir. Eu estava sozinha dentro da imensidão azul que eu mesma me enfiara. Meu clamor não passava de bolhas despercebidas na superfície de um mar violento. Quando perdi a força pra lutar, fui cuspida de volta à areia. Usada, ferida, salgada. Até hoje lembro-me da sensação de seus grãos duros e o sal incrustados em minha pele ressecada, fazendo-a queimar. Foram as experiências de afogamento do passado que me impedem de mergulhar no presente.

- Soojung? Jung Soojung, é você? Tirei os fones de ouvido e ergui os olhos para o dono da confeitaria, que agora se mostrava à minha frente. Havia algo familiar em seu olhar, e não demorou muito para que eu o reconhecesse. - Kim Jongin? – perguntei, logo alegrando-me ao ver o grande sorriso que abriu em seu rosto ao ouvir o próprio nome. – Ah, minha nossa, como você está diferente! - Você também! – ele puxou uma cadeira da mesa que eu estava sentada, e logo acomodou-se. – Fico feliz de estar em minha confeitaria! Então quer dizer que queria falar com o dono? - Não é nada demais – o tranquilizei. - Eu só queria parabenizá-lo pelo bolo de coco. O último bom que comi foi no colegial. Se bem que... - Por acaso seria o bolo do nosso último ano antes da faculdade? – Ele perguntou, ainda sorrindo. Reparei nas duas covinhas que enfeitavam a pele morena das bochechas e retribuí o sorriso com ainda mais entusiasmo. - Ai meu Deus, você que fez o bolo! Ele ficou olhando-me por um momento, e depois começamos a conversar sobre as coisas mais importantes que havia acontecido em nossas vidas desde que havíamos perdido o contato. Marcamos para tomar café na semana seguinte, pois o movimento no estabelecimento estava corrido e ele precisava trabalhar. Ele deixou minha conta aquele dia por conta da casa, e voltei para meu apartamento com uma sensação leve no peito. Depois do café, marcamos de sair mais uma vez. E outra. E mais uma, até o momento em que perdi a conta, e resolvemos então assumir um relacionamento sério. Jongin cuidava de mim com seus doces e seu carinho, enquanto eu tentava me reerguer da última vez que me entregara de corpo e alma à alguém.

Depois de tudo isso, você ainda se questiona: “Tens medo de água?’ E eu respondo que não. Desde antes do primeiro contato até o último afogamento, é a única resposta possível. Porque meu único receio é entrar na piscina e não sentir o mesmo estado de torpor que vibrava em cada célula do meu corpo quando estava submersa no mar. Nas águas calmas e tranquilas da piscina eu não seria capaz de me afogar pois não haveria o transbordar de águas dos meus sentimentos. Não haveria mais sentido estar ali, de pé, monótona. Acomodada. Eu seria obrigada a subir as escadas, sair e me secar. E não teria mais vontade de entrar novamente.

- Tenho medo de mergulhar na piscina que é você e depois te perder por você não ter sido o suficiente para me fazer esquecer toda aquela imensidão do mar. Minhas palavras ressoaram nas paredes do meu quarto parcamente iluminado. Jongin me encarava de volta, sem saber o que dizer depois de ter ouvido todo o meu passado. Sendo assim, permanecemos quietos enquanto o silêncio devorador nos consumia pouco a pouco. Os segundo passavam e eu olhava para a figura de Jongin sentado no sofá à minha frente. Moreno, relaxado e calmo, não chegava nem perto de ser parecido com o furacão no qual eu era habituada a viver. Eu facilmente conseguia imaginar nossa casa daqui a alguns anos; talvez com um ou dois filhos. Eu seria feliz, tinha total certeza. Tinha que ter certeza. - Alguém muito importante em minha vida uma vez disse-me que você sabe quando ama uma pessoa quando escuta a palavra “amor” e ela é a primeira coisa que aparece em sua mente quando você pisca – Jongin disse, a voz rouca presa na garganta. Depois da pausa, continuou a falar. – O que você vê, Soojung? Notei em seu olhar o medo pela minha resposta. Suspirando, resolvi tentar. Estou quase entrando na piscina, mas quando fecho os olhos, ainda vejo o mar.




Bruna Prado


Primeira campeã do Fanfictions Awards, na categoria One-shot.

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